terça-feira, 17 de maio de 2016

SEUS PROBLEMAS ACABARAM!


            Nestes dias conturbados, lembrei-me daquele programa humorístico da TV, que citava uma fictícia “Organizações Tabajara”, que tinha como bordão a expressão “seus problemas acabaram”!
            Infelizmente, nossa realidade não anda nada bem humorada, mas expressa com fidelidade a ironia que emergia da expectativa daquelas pretensas “soluções”.
            “Mas tiramos do poder os maiores corruptos da nossa história”, bradou com um extemporâneo e fugaz patriotismo uma parcela da sociedade. Houve diversos casos de corrupção fartamente divulgados na imprensa, realmente, mas qual seria a nossa referência para elevá-los ao patamar de campeões dessa nefasta modalidade?
            Seria, por acaso, o período da ditadura militar, do qual tantas viúvas do autoritarismo ainda enxergam virtudes? Ora, se num regime militar de exceção você não pode nem mesmo discordar das ideias políticas dos brucutus fardados de plantão, imagine então levantar um caso de corrupção para qualquer tipo de averiguação? Os que tentaram, findaram seus dias no “pau de arara” ou estão na lista de desaparecidos ou foram levados, por “argumentos” nada sutis, a arrefecerem seus ímpetos “comunistas”.
            Seria, então, o período de FHC, o sociólogo arrependido? Apesar do maciço apoio que teve da grande mídia, é possível resgatar alguns fatos inequívocos daquele período. Relembremos algumas questões fundamentais: a Polícia Federal não era aparelhada como hoje e nem tinha, na prática, autonomia para mexer com seus “patrões”; o Ministério Público não tinha a cobertura midiática atual, a quantidade de quadros e a sustentação para empreitadas mais ousadas; e, para encurtar, FHC jamais nomeou o 1º nome da lista tríplice enviada pelo MP, para o cargo de Procurador Geral da República, peça fundamental para a moralização de qualquer governo, sendo ele o responsável por enviar as denúncias, que, aliás, não foram poucas, ao Poder Judiciário. O PGR nomeado por FHC, por sinal, primo do seu vice-presidente, jamais remeteu uma denúncia de peso sequer ao STF e ficou conhecido, até por seus pares, como o “engavetador geral da república”. O que aconteceria se fossem investigados alguns casos como, a compra de votos para aprovação da emenda da reeleição, caso Banestado, Proer e Sivam, por exemplo?
            Mas, voltando aos nossos dias, falaram também da “vergonha” do governo de contar com políticos investigados pela Operação Lava Jato. E o presidente interino nomeou ministros investigados pela mesma operação. E eles nada mais falaram.
            Mas nomearam o Lula para fugir do Juiz Moro. E o presidente interino nomeou envolvidos na Lava Jato, que não tinham foro privilegiado, como ministros de seu notável governo. E as panelas também silenciaram.
            Mas precisamos de um partido de fichas-limpas no poder. E então, 367 deputados, boa parte deles investigados pela Justiça, autorizam a investigação de uma presidente que nunca foi acusada de se apossar do dinheiro público. E assume o PMDB! Oi? Onde estão as luzes piscando naqueles prédios eleitos pelas telinhas das TVs?
            Sim, houve casos de corrupção no governo agora investigado, assim como praticamente em todos os governos já existentes. Houve mentiras na campanha da presidente, assim como em todas as campanhas em todo o país. Houve doações para a presidente, de empresas envolvidas na Lava Jato, assim como elas doaram para todos os seus principais adversários, que o digam os “tetraderrotados” tucanos.
            Contradições assim, só fragilizam a já questionável legitimidade desse remendo de governo interino, sem voto e sem apoio popular.
            Eu também quero o fim dessa política rasteira e dessa praga que é o roubo do dinheiro público. Mas que a Justiça seja para todos, sem preferências e sem partidarismos.
            Ninguém, em sã consciência, vai querer defender erros e falcatruas, seja de quem e de qual partido for, porém, é óbvio que este processo de impeachment foi maculado por um enredo que nada tem a ver com a corrupção, como, por exemplo: a vingança de um Presidente da Câmara que dispensa apresentações, afastado após a execução do serviço sujo; um vice-presidente conspirador, também citado na Lava Jato, de um partido que nunca se notabilizou por atitudes éticas e que já teve 3 presidentes sem jamais ter ganho nas urnas; o golpismo do partido que perdeu as eleições livres e democráticas pela quarta vez consecutiva, que botou na rua alguns de seus “indignados” eleitores tentando, quem sabe, um pretenso 3º turno. Tudo com o beneplácito da grande mídia.
            Mas calma, “seus problemas acabaram!”.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Hipocrisia



            O golpe travestido de normalidade venceu a legalidade! A grande mídia e nossa indefectível elite já vinham conspirando desde que o candidato deles, mais uma vez, perdeu a eleição, afinal, a permanência de governos com pretensões sociais sempre incomoda os que se acham detentores, “por direito”, de privilégios. Proponho àqueles falsos moralistas e patriotas de ocasião, com suas indignações seletivas e suas frustrações incontidas, uma reflexão sobre as práticas de oferecer “um cafezinho” pro guarda de trânsito, de pedir “recibos médicos” para suas declarações de I.R., de estacionarem em vagas reservadas a idosos e deficientes, de sonegarem impostos com produtos de Miami/Paraguai ou até mesmo de financiarem lobistas para pressionarem políticos a anistiarem suas dívidas. Ou será que “os corruptos são sempre os outros”? Aos demais, ingênuos, desavisados e manipulados que foram levados de roldão, entendam-se com suas consciências e fiquem com Eduardo Cunha, Temer, Bolsonaro e Cia. Eu fico com a democracia!

sexta-feira, 11 de março de 2016

JUSTIÇA

            Eles irão nascer e não há nada que se possa fazer.
            Dirão que é a diversidade, mas sabem que não é a verdade.
            No começo serão mimados, agraciados e protegidos, perpetuando o mito de estarem entre os escolhidos.
            Nas derrotas serão compensados, nas vitórias, glorificados.
            Desde tenra idade, num mundo criado para ser verdade, construirão sua realidade.
            Dane-se a Sociedade!
            Se há séculos é assim, agarrados em seus privilégios e promovendo segregações em todos os momentos, o que eles não farão por seus rebentos?
            Proclamam-se protagonistas da humanidade, destilando arrogância e insanidade.
            E se criarem uma democracia?
            Com uma boa maquiagem, transformarão em monarquia!
            E se universalizarem a Educação?
            Não comemorem de antemão!
            Será como ração pra gado marcado, pois a qualidade será reserva de mercado!
            Nos darão Hospitais, ambulatórios e Planos de Saúde “especiais”.
            Pra que irão querer filas, mau atendimento e farta distribuição de sofrimento?
            E dirão que isso é normal, que quem manda é a Economia e que a conquista de espaço é só uma questão de meritocracia.
            E os “Especialistas” também confirmarão, os grandes meios de comunicação divulgarão e tudo será ratificado pelos Governos de plantão.
            Aos carentes de cidadania, uma forçada anestesia.
            E se um dia acontecer de a corrupção transparecer, a justiça é sempre improvável, para essa casta intocável!
            Mas se acaso um intruso aparecer e não quiser só a migalha...
            Prendam esse canalha!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

CONTATOS


Eles já estão entre nós!
Não é difícil percebê-los.
São facilmente identificáveis perambulando a esmo nas ruas e aeroportos ou simplesmente curvados em seus assentos nos teatros e nos cinemas, com seus trejeitos de literais zumbis, olhando fixamente e apertando as teclas de um pequeno objeto que emite sons e luzes o qual, acredita-se, seja uma espécie de coração artificial desses alienígenas, pois, constata-se nitidamente o desespero e a ansiedade quando não estão em simbiose com o funesto acessório.
            Ultimamente têm sido vistos em bares e restaurantes, reforçando a suspeita de que se alimentam das vibrações daquele pequeno aparelho, sendo que, as refeições que aparentemente ingerem, são expelidas, posteriormente, em lugares previamente preparados por Gestores Públicos já abduzidos e devidamente cooptados, como, por exemplo, o Rio Tietê, a Baia de Guanabara e outros ambientes da mesma classe de excrementos.
            Muitos deles já perceberam que podem ser desmascarados, e se escondem, então, dentro de automóveis, onde fazem de tudo para não serem notados. Disfarçam-se atrás de vidros fumês, conectam-se a “viva-voz”, entre outros truques, mas podem ser detectados quando flagrados por algum policial e, no intuito de não serem descobertos, contam mentiras infames.
            Veja só, como se aqui fosse um planeta habitado por hipócritas!
            Minhas investigações ampliaram meu leque de suspeitas quando descobri que alguns deles chegam a dormir acoplados àqueles equipamentos. Em princípio, achei que este tipo de “recarga noturna” fosse uma maneira de nos ludibriar, já que assim seria desnecessário o seu uso a luz do dia, porém, esses espécimes também se mostraram dependentes daqueles dispositivos nos demais períodos do dia. Possivelmente sejam alienígenas mais refratários ao nosso habitat, necessitando assim de cargas mais constantes.
            Mas a maior prova dessa invasão interestelar é a atitude notadamente insana que muitos deles propiciam quando tentam mostrar que aquele utensílio seria uma espécie de, pasmem, t-e-l-e-f-o-n-e: sistematicamente, algum “mala” interplanetário (disfarçado, logicamente), para num lugar público, ensaia uma “cara de paisagem”, se posiciona propositalmente junto a um aglomerado de pessoas, apesar da proximidade de lugares mais reservados, coloca aquele apetrecho no ouvido e começa a gesticular e a gritar, falando em alto e bom tom sobre o fechamento fictício de algum grande negócio ou qualquer outro assunto desinteressante para os forçados ouvintes!
            São muito imbecis esses ETs!
            Que Ser humano seria idiota a esse ponto?

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

#agoraequesaoelas

No clima da campanha - #agoraequesaoelas - abro espaço para que meus (minhas) 4 ou 5 leitores (as) possam saborear o delicioso e corajoso texto de minha filha, Letícia Chahaira:

JE SUIS FEMINISTAS!!!
“Não confunda liberdade com libertinagem, mocinha”!
Qual “enrustida” Geni nunca foi apedrejada por essa pérola da moralidade travestida de verdade do bom senso e bons costumes?
A verdade é que, esse “bom senso” do senso comum nunca nos comoveu.
Criolo, o rapper, canta que se alguém lhe dirige a palavra, dizendo: “Muda essa roupa! Corta esse cabelo”! – só resta responder- “O quê?! Vai todo mundo se fuder”!
Meu sonho é receber um convite para uma “festa da vida” com a seguinte indicação (só para manter o modelo da démodé tradição que cisma em nos “orientar” e uniformizar):
- Traje: fica a seu critério – qual se sentir mais a vontade para aproveitar e não ter que se despir da sua personalidade por mera formalidade.
- Cabelo: com o humor que ele estiver no dia, não perca tempo com isso, só se você se sentir melhor, é claro! (cumplicidade feminina, pessoal, sabemos que é verídico).
- Acompanhante: Se estiver afim... a sua própria companhia pode ser a mais libertadora.
- Como se portar: Oi? Brincadeirinha. Só pra saber se estava lendo tudo.
E hoje, vendo algumas letras de Chico Buarque, descobri que meu subconsciente sempre foi feminista, mesmo antes de alguma noção do que isso representa, num ato falho, cantei minha vida toda: “A Rita levou meu sorriso, no sorriso dela meu assunto, levou junto com ela O QUE LHE É DE DIREITO...” sim, o direito é dela! A Rita é uma feminista (além do bom gosto de ter levado o disco de Noel, logicamente).
Sem hipocrisia! Algumas vezes me questiono sobre certos radicalismos de alguns direcionamentos feministas (Feminista de araque? Julgue-me), o ranço provinciano e limitado da opressão construída historicamente, acredite, “está no meio de nós”, entretanto, esse levante feminista que está posto, é tão útil quanto necessário para vislumbrar uma passagem de uma Era, que “já não era sem tempo”, convenhamos. E deixo aqui minha simplista sugestão de reflexão para quando for acometida por esse leviano e preconceituoso pensamento:
Fomos reprimidas, sem direito ao sufrágio, subtraídas, subjugadas, “sub” isso, “sub” aquilo, durante o maior período da história humana que não nos humanizavam, que não nos valorizavam, simplesmente, não nos equalizavam com o gênero masculino. Passado? Sabemos que não. Cotidianamente temos que sublinhar e provar que somos boas o suficiente para pertencermos a tal lugar, e, chega! - como diz o samba: “lugar de mulher é onde ela quiser”.
Prenderam-nos,  nos proibiram,  nos rotularam, e pra sair desse enquadramento, “só rasgando”, pois as leis estão aí, a democracia, a igualdade, a liberdade, existe legalmente e aparentemente e se tem uma coisa que feminista não suporta é manter aparência, por isso essa revolução, por isso, não só essa voz tamanha e sim esse grito (o silêncio imposto por séculos, ensurdece, sabiam?! Precisamos nos ouvir!).
Século XXI e não sou obrigada a ouvir:
- “Nossa, por que você se esconde e não usa uma maquiagem pra dar uma realçada? ”
- “Nossa, você faz boxe? Mudou de lado, é? ”
- “Você vive sozinha, né?! Por que não arruma um namorado para ter uma companhia? ”
- “Vixe, 27 anos, solteira... olha Letícia, sem pressão, mas até você arrumar um namorado, até você casar com esse namorado e resolver aí sim ter filhos... pense bem. Vamos congelar esses óvulos! Melhor, né?!”
É... Eu sei, a indignação de vocês lendo essas perguntas (pasmem, reais!!!), é a minha resposta.
Manuel Bandeira poetizou por mim, por todas nós:
“Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto, expediente,
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor. (...)
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação”.
Não queremos agradar ninguém, nem desagradar. Queremos o direito de nos expressar, de decidir sentir o espírito materno ou não; de ocupar espaços outrora predominantemente masculinos, pela possibilidade, pelo merecimento, pela vontade genuína, queremos nos amar como somos e desejamos que nos ame somente quem nos aceite como somos, não aceitamos mais pré-requisitos que nos classifiquem como melhores ou piores mulheres. Nós somos, estamos ocupando e nos assumindo como mulheres de direito. Igualdade. Compreendam. Tentem. Ou aceitem que dói menos. Não tem mais volta. Agora é que são elas.