Nestes
dias conturbados, lembrei-me daquele programa humorístico da TV, que citava uma
fictícia “Organizações Tabajara”, que tinha como bordão a expressão “seus
problemas acabaram”!
Infelizmente,
nossa realidade não anda nada bem humorada, mas expressa com fidelidade a
ironia que emergia da expectativa daquelas pretensas “soluções”.
“Mas
tiramos do poder os maiores corruptos da nossa história”, bradou com um
extemporâneo e fugaz patriotismo uma parcela da sociedade. Houve diversos casos
de corrupção fartamente divulgados na imprensa, realmente, mas qual seria a
nossa referência para elevá-los ao patamar de campeões dessa nefasta
modalidade?
Seria,
por acaso, o período da ditadura militar, do qual tantas viúvas do
autoritarismo ainda enxergam virtudes? Ora, se num regime militar de exceção
você não pode nem mesmo discordar das ideias políticas dos brucutus fardados de
plantão, imagine então levantar um caso de corrupção para qualquer tipo de
averiguação? Os que tentaram, findaram seus dias no “pau de arara” ou estão na lista
de desaparecidos ou foram levados, por “argumentos” nada sutis, a arrefecerem
seus ímpetos “comunistas”.
Seria,
então, o período de FHC, o sociólogo arrependido? Apesar do maciço apoio que
teve da grande mídia, é possível resgatar alguns fatos inequívocos daquele
período. Relembremos algumas questões fundamentais: a Polícia Federal não era
aparelhada como hoje e nem tinha, na prática, autonomia para mexer com seus
“patrões”; o Ministério Público não tinha a cobertura midiática atual, a
quantidade de quadros e a sustentação para empreitadas mais ousadas; e, para
encurtar, FHC jamais nomeou o 1º nome da lista tríplice enviada pelo MP, para o
cargo de Procurador Geral da República, peça fundamental para a moralização de
qualquer governo, sendo ele o responsável por enviar as denúncias, que, aliás,
não foram poucas, ao Poder Judiciário. O PGR nomeado por FHC, por sinal, primo
do seu vice-presidente, jamais remeteu uma denúncia de peso sequer ao STF e
ficou conhecido, até por seus pares, como o “engavetador geral da república”. O
que aconteceria se fossem investigados alguns casos como, a compra de votos
para aprovação da emenda da reeleição, caso Banestado, Proer e Sivam, por
exemplo?
Mas,
voltando aos nossos dias, falaram também da “vergonha” do governo de contar com
políticos investigados pela Operação Lava Jato. E o presidente interino nomeou
ministros investigados pela mesma operação. E eles nada mais falaram.
Mas
nomearam o Lula para fugir do Juiz Moro. E o presidente interino nomeou
envolvidos na Lava Jato, que não tinham foro privilegiado, como ministros de
seu notável governo. E as panelas também silenciaram.
Mas
precisamos de um partido de fichas-limpas no poder. E então, 367 deputados, boa
parte deles investigados pela Justiça, autorizam a investigação de uma
presidente que nunca foi acusada de se apossar do dinheiro público. E assume o
PMDB! Oi? Onde estão as luzes piscando naqueles prédios eleitos pelas telinhas
das TVs?
Sim,
houve casos de corrupção no governo agora investigado, assim como praticamente
em todos os governos já existentes. Houve mentiras na campanha da presidente,
assim como em todas as campanhas em todo o país. Houve doações para a
presidente, de empresas envolvidas na Lava Jato, assim como elas doaram para
todos os seus principais adversários, que o digam os “tetraderrotados” tucanos.
Contradições
assim, só fragilizam a já questionável legitimidade desse remendo de governo
interino, sem voto e sem apoio popular.
Eu
também quero o fim dessa política rasteira e dessa praga que é o roubo do
dinheiro público. Mas que a Justiça seja para todos, sem preferências e sem
partidarismos.
Ninguém,
em sã consciência, vai querer defender erros e falcatruas, seja de quem e de
qual partido for, porém, é óbvio que este processo de impeachment foi maculado
por um enredo que nada tem a ver com a corrupção, como, por exemplo: a vingança
de um Presidente da Câmara que dispensa apresentações, afastado após a execução
do serviço sujo; um vice-presidente conspirador, também citado na Lava Jato, de
um partido que nunca se notabilizou por atitudes éticas e que já teve 3
presidentes sem jamais ter ganho nas urnas; o golpismo do partido que perdeu as
eleições livres e democráticas pela quarta vez consecutiva, que botou na rua
alguns de seus “indignados” eleitores tentando, quem sabe, um pretenso 3º
turno. Tudo com o beneplácito da grande mídia.
Mas
calma, “seus problemas acabaram!”.